terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Os Porquês da Greve dos Professores



Estamos num momento crucial da nossa luta.
Esta greve representa o património de luta adquirido, o capital de reivindicação construído e em acção e o potencial de exigência de uma classe pela sua dignificação. Não podemos deixar desmoronar o muro da respeitabilidade profissional que arduamente soubemos construir. Há momentos em que o momento de dizer o que queremos é único. Não podemos deixar fugir a oportunidade de acertar no alvo até porque nunca se dispara duas vezes a mesma bala.

Esta greve representa o clamor de revolta, da indignação, do basta de incompetência e de que está na hora desta ministra e seus acólitos irem embora. Já percebemos que a prepotência da frase lapidar “Perdi os professores mas ganhei a opinião pública”, deu lugar ao tacticismo sinistro e indecoroso do “Peço desculpa aos professores pelos incómodos que lhes possa ter causado”, com o intuito de dissimular a obstinação das decisões ao mesmo tempo que conserva a coacção sobre opiniões e alarga o temor com intimações. Também já deviam ter percebido que esta classe sabe enfrentar a arrogância da intransigência, quer abrir o trilho de um novo paradigma profissional e pode derrotar um ciclo político de falaciosas reformas.

Esta greve representa a exigência de revogação de todo o ardiloso arquétipo para a educação no nosso país. O ECD dividiu-nos em titulares e suplentes. O processo de avaliação põe os titulares a ordenar os suplentes. O modelo de gestão restitui a salazarenta figura do absoluto director que ordena os titulares. As direcções regionais, súbditas do ministério, controlam os directores. Por ironia do destino ou fatalismo da inoperância, lá estamos nós a aplicar na educação o molde hierarquizante do capitalismo na altura em que mais se evidenciam as falhas deste sistema político. Fiquem sabendo que não queremos só suspender a avaliação de desempenho, queremos, e muito, refazer o ECD e anular a nova gestão das escolas.

Esta greve representa a inteligência de quem sabe que o 1º ministro já sabe que o modelo de avaliação de desempenho, tal como foi e é apresentado, nunca será aplicado. A teimosia é politica – não se pode quebrar a imagem de marca das reformas; a visão é eleitoralista – já perdemos os votos da esquerda vamos recuperá-los na direita que defende os inflexíveis; o plano é de desgaste – fragmentamos pelos órgãos de gestão, ameaçamos pelos mais vulneráveis, instalamos a divisão e o caos e depois culpamos-lhos pela impraticabilidade. As últimas diligências ministeriais são disso um lastimável exemplo. A noiva tirou o véu. Já não interessam os resultados escolares. Para quê as aulas assistidas? Porque é que haviam de preencher aquelas aberrantes fichas de registo? Os professores é que complicaram tudo e fizeram com que estes dois anos de trapalhadas não servissem para nada. Até agora foi demasiado “complex” mas a partir deste momento temos um imenso “simplex”.

Senhora ministra e seus indefectíveis secretários, Senhor 1º ministro e seus solícitos discípulos. Fiquem sabendo que os professores há muito que deixaram de acreditar nas vossas tóxicas propostas, que aprenderam a não aceitar patranhas aveludadas e sentem-se enxovalhados por levianas politicas de educação.

Por tudo isto estivemos 100 mil na rua a 8 de Março. Fomos 120 mil (cerca de 85% do total de docentes do país) a manifestarmo-nos a 8 de Novembro. Repetimos a manifestação e a 15 de Novembro alguns milhares voltaram a Lisboa. Voltamos a estar milhares nas ruas das capitais de distrito na semana passada. Agora estamos em greve nacional e com total determinação de alargar a razão da nossa luta.
É tempo de dizer o que tem de ser dito, de fazer o que tem que ser feito, de não trair o que já tanto se fez e de não ceder ao tanto que já se ganhou. Temos de saber dizer a este governo que “Perdemos uma ministra e ganhamos uma classe”.
A greve é crucial, a luta é capital e capitula quem perder.

Enviada por
José Maria Cardoso

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