segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

ANO NOVO VIDA VELHA?

Terminamos 2008 pior que começámos. O sr Sousa não tem aqui todos os méritos mas ajudou bastante.
Nas finanças, baixou-se o défice orçamental (que irá subir) não à custa reformas estruturais, mas pela politica salazarenta de “roubar” nos bolsos de quem trabalha, enquanto a especulação financeira acampa no offshore da Madeira e os bancos que pagam uns 15% reais de IRC, e ainda, viram o estado dar-lhes o dinheiro dos contribuintes para cobrir os
desvarios nos mercados financeiros. Agravou-se a dívida externa . Aumentou-se a carga fiscal inclusive aos reformados e deficientes. Os funcionários públicos , pelo oitavo ano perderam poder de compra, enquanto os patrões consideram 450 euros de salário mínimo incomportável no custo dos ferraris. Colocaram-se os automobilistas a pagar mais pelos carros , pela gasolina(os preços continuam escandalosos). Os produtos essenciais sobem descaradamente às portas de uma deflação (ex: trigo desce, pão sobe?)

Na justiça, continuamos a ver os processos encalhados anos a fio. Futebóis, casas pias, operações furacão, agarraram de estaca e são bons vendedores de jornais. Mas o mais grave é as empresas e os cidadãos não conseguirem ver um processo resolvido em tempo útil. Os
procuradores queixam-se que perderam autoridade e não têm meios. Não se compreende também a lei escrita ser uma, mas cada juiz sua sentença. A bandidagem está cheia de direitos, abre-se o segredo de justiça antes dos processos investigados. O dr Alberto é um fantasma. Na segurança, assaltos a tribunais caídos de podre, car-jaking, ATMs roubadas, milhares de sinistrados por ano, milhares de contra-ordenações que se perderam, outras tantas prescrevem. Os acidentes de viação custam milhões ao país. Os polícias aumentaram os suicídios. Mas o que achei mais grave neste ano, foi o apodrecimento da democracia. A “bufaria” no aparelho de estado, a polícia nos sindicatos, autocarros de manifestantes bloqueados na auto-estrada pela policia, a intimidação aos trabalhadores, os telefonemas aos jornalistas, o grupo Impresa que perdeu a liberdade crítica ao governo uma vez que o seu patrão accionista do BPP precisou da bengala do estado, o canal 1 refém, os chips nas matriculas. Isto causou-me medo, fez-me imaginar um tempo que não vivi enquanto maior.

Na saúde,
o povo adoeceu, foi ao serviço público, não conseguiu consultas ou então foram marcadas num tempo inútil. Como se não bastasse, aumentaram taxas moderadoras que têm impacto orçamental quase nulo, mas foram um sinal. Fecharam-se maternidades em terras cheias de natalidade como Barcelos, os da raia acorreram a Espanha(vergonhoso), noutras fecharam-se centros de saúde e compraram-se ambulâncias. Continuam a não abrir vagas de medicina suficientes, colocando-se o interesse corporativo à frente do país, os medicamentos continuam inflacionados pela coutada das farmácias e dos laboratórios. A quota de mercado dos genéricos é minúscula.

Na economia, o nosso ministro, parece ainda estar numa fase de casting, sucedem-se os enganos, o faz de conta, os pins de questionável valor para o desenvolvimento real. O mercado dos combustíveis que não funciona, cujos reguladores aparecem envolvidos em situações mal explicadas. Investimentos com fita cortada às duas vezes, mas nunca concretizados, resorts em paisagens naturais protegidas por lei, dinheiro jogado para cima de empresas com fracas contrapartidas ao país. All Garves e outras campanhas fantoche com fotos a um milhão de euros, pagas com o dinheiro dos contribuintes, com eficácia duvidosa e por avaliar. O que o nosso ministro gosta mesmo é de se pavonear por entre as empresas do nosso medíocre PSI 20, as que dão uns tachos nas desintoxicações de governança. Mas nem um pensar estratégico para as PMEs que são o motor económico-social redistribuídor de riqueza e criador de emprego.

Na educação decorreu a triste estória que todos conhecemos. O trio irascível e incompetente continuou a sua saga de destruição da Escola Pública. Falta de auxiliares e crianças ao abandono, amianto cancerígeno espalhado por muitas escolas do país. O interior serrano que continua sem aquecimento, o transporte escolar sem segurança (autocarros com mais de 20 anos, sobrelotados), novos centros escolares em contentores, com crianças a fazerem 70 Km por dia. Nas escolas metropolitanas armas brancas, insegurança e agressões, cantinas privatizadas onde a ASAE não vai porquê?. No primeiro ciclo prolongamento de horário com professores a recibo verde a oito euros hora, em contentores ou longe da escola, em que os pais têm de movimentar os alunos em horário de trabalho.
Depois de um monstro legislativo criado, obeso, centralizado, sem flexibilidade e adaptabilidade à realidade escolar, vieram as alterações, os remendos, reclamados por um país que não aceita esta politica educativa, de degradação da escola pública com objectivo último de a tornar num negócio, como fizeram no notariado, nas águas, nos lixos, nos transportes, na saúde.
Após duas manifestações, 230 000 professores na rua, centenas de documentos aprovados democraticamente por pais e professores em todo o país, contra esta política e este governo, Sócrates continuou autista, provando que o seu objectivo é eleitoralista e não melhorar a escola, fingir que faz e não cede, enquanto vai cedendo não fazendo, porque o esqueleto das politicas foi mal concebido. O Ministério da Educação fez algo de impensável em qualquer organização, desprestigiar e insultar os seus funcionários publicamente, desmotiva-los. Quem faz isto não pretende qualidade na Escola Pública… devem reflectir os Portugueses sobre isto.

A sociedade continuou a definhar, de barriga vazia, as letras por pagar, com fraca tabuada e um inglês técnico que não permite evitar o phishing. A tv caco cortada por divida com adesão maciça ao cardsharing e um Magalhães que agora anima as noites do Zé com a contrafacção das feiras. A cultura ficou para as elites e as novelas para o povo. A literatura foi subtraída nas escolas tirando a freguesia às bibliotecas, que ficam como uma espécie de bustos de Santana. O ambiente foi subtraídos aos portugueses e alienado aos grupos económicos, o povo trocou assim os bosques cortados, e os rios e praias envenenadas, pelas catedrais dos Azevedos & Martins. Pretenderam transformar-nos num
bando de esfomeados, onde quem lança um osso passa a dono. Sócrates transformou-nos numa telenovela mexicana. Os portugueses andam tristes na rua e drogados com ansioliticos. Registaram-se níveis de emigração só comparáveis à década de 60. Uma foto possível em qualquer país amigo, Venezuela, Líbia, Brasil…

Tenho esperança no futuro? Sempre.

Apenas faço um voto para 2009. Transformemo-nos num povo muito observador da realidade, com uma cidadania activa, fortemente críticos e reivindicativos naquilo que considerarmos estar errado e afectar os nossos direitos. É preciso parar uma elite politica e económica que nos suga os recursos, fazendo de nós um país periférico com desenvolvimento adiado. Neste novo ano com vários sufrágios, dêmos uma resposta forte à arrogância, ao autoritarismo, às negociatas, ao tráfico de influências, à destruição da escola pública…
É possível melhorar.
Um bom 2009

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