segunda-feira, 29 de junho de 2009

ANTÓNIO BARRETO: " Todos sabem que a escola está hoje pior que há um ano"


"*A PUBLICAÇÃO,** pelo Ministério da Educação, do "Manual de Aplicadores" nãopassou despercebida. Vários comentadores se referiram já a essa tão insignepeça de gestão escolar e de fino sentido pedagógico. Trata-se de umcompêndio de regras que os professores devem aplicar nas salas onde sedesenrolam as provas de aferição de Português e Matemática. **Mais preciso epormenorizado do que o manual de instruções de uma máquina de lavar a roupa**. Mais rígidos do que o regimento de disciplina militar, estes manuais nãosão novidade. Podem consultar-se os dos últimos quatro anos. Sãoessencialmente iguais e revelam **a mesma paranóia controladora**: apretensão de regulamentar minuciosamente o que se diz e faz na sala duranteas provas.**-**ALGUNS** exemplos denotam a qualidade deste manual: "Não procure decoraras instruções ou interpretá-las, mas antes lê-las exactamente como lhe sãoapresentadas ao longo deste Manual". "Continue a leitura em voz alta: Passoagora a ler os cuidados a terem ao longo da prova. (...) Estou a serclaro(a)? Querem fazer alguma pergunta?". "Leia em voz alta: Agora voudistribuir as provas. Deixem as provas com as capas para baixo, até que eudiga que as voltem". "Leia em voz alta: A primeira parte da prova terminaquando encontrarem uma página a dizer PÁRA AQUI! Quando chegarem a estapágina, não podem voltar a folha; durante a segunda parte, não podemresponder a perguntas a que não responderam na primeira parte. Queremperguntar alguma coisa? Fui claro(a)?". Além destas preciosas recomendações,há dezenas de observações repetidas sobre os apara-lápis, as canetas, opapel de rascunho, as janelas e as portas da sala. Tal como um GPS ("Saia nasaída"), o Manual do Aplicador não esquece de recomendar ao professor queleia em voz alta: "Escrevam o vosso nome no espaço dedicado ao nome".Finalmente: "Mande sair os alunos, lendo em voz alta: Podem sair.Obrigado(a) pela vossa colaboração"!**-**A LEITURA destes manuais não deixa espaço para muitas conclusões. Talvez sóduas. A primeira: **os professores são atrasados mentais eincompetentes.**Por isso deve o esclarecido ministério prever todos**os passos, escrever o guião do que se diz, **reduzir a zero quaisqueriniciativas dos professores, normalizar os procedimentos e evitar queprofissionais tão incapazes tenham ideias**. A segunda: a linha geral doministério, a sua política e a sua estratégia estão inteiras e explícitasnestes manuais. **Trata os professores como se fossem imaturos e aldrabões**.Pretende reduzi-los a agentes automáticos. Não admite a autonomia. Abomina ainiciativa e a responsabilidade. Cria um clima de suspeição. **Obriga osprofessores a comportarem-se como "robots".**A ser verdadeira a primeira hipótese, não se percebe por que razão aquelaspessoas são professores. Deveriam exercer outras profissões. **Mesmo comcinco, dez ou vinte anos de experiência, estes professores são pessoas debaixa moral, de reduzidas capacidades intelectuais e de nula aptidãoprofissional**. O ministério, que os contratou, é responsável por umaselecção desastrada. Não tem desculpa.Se a segunda for verdade, o ministério revela a sua real natureza. Tem umaconcepção centralizadora e dirigista da educação e da sociedade. **Entendesem hesitação gerir directamente milhares de escolas**. Considera osprofessores imbecis e simulados. **Pretende que os professores sejamfuncionários obedientes e destituídos de personalidade**. Está disposto atudo para estabelecer uma norma burocrática, mais ou menos "taylorista",mais ou menos militarizada, que **dite os comportamentos dos docentes**.**-**O ANO** lectivo chega ao fim. Ouvem gritos e suspiros. Do lado, doministério, festeja-se a "vitória". Parece que, segundo Walter Lemos, 75 porcento dos professores cumpriram as directivas sobre a avaliação. Outrasfontes oficiais dizem que foram 57. Ainda pelas bandas da 5 de Outubro,comemora-se o grande "êxito": as notas em Matemática e Português nunca foramtão boas. Do lado dos professores, celebra-se também a "vitória". Nunca seviram manifestações tão grandes. Nunca a mobilização dos professores foi tãoimpressionante como este ano. Cá fora, na vida e na sociedade,perguntamo-nos: "vitória" de quem? Sobre quê? Contra quem? Esta ideia de quea educação está em guerra e há lugar para vitórias entristece e desmoraliza.Chegou-se a um ponto em que já quase não interessa saber quem tem razão.Todos têm uma parte e todos têm falta de alguma. **A situação criada é a deum desastre ecológico. Serão precisos anos ou décadas para reparar osestragos**.** Só uma nova geração poderá sentir-se em paz consigo, com osoutros e com as escolas.**-**OLHEMOS** para as imagens na televisão e nos jornais. Visitemos algumasescolas. Ouçamos os professores. Conversemos com os pais. Falemos com osestudantes. Toda a gente está cansada. A ministra e os dirigentes doministério também. Os responsáveis governamentais já só têm uma ideia emmente: persistir, mesmo que seja no erro, e esperar sofridamente pelaseleições. Os professores procuram soluções para a desmoralização. Uns pedema reforma **ou tentam mudar de profissão**. Outros solicitam transferênciapara novas escolas, na esperança de que uma mudança qualquer engane aangústia. **Há muitos professores para quem o início de um dia de aulas é um momento de pura ansiedade.** Foram milhares de horas perdidas em reuniões.Quilómetros de caminho para as manifestações. Dias passados a preencherformulários absurdos. Foram semanas ocupadas a ler directivas e despachosredigidos por **déspotas loucos**. Pais inquietos, mas sem meios deintervenção, lêem todos os dias notícias sobre as escolas transformadas emterrenos de batalha. Há alunos que ameaçam ou agridem os professores. E hádocentes que batem em alunos. Como existem estudantes que gravam oufotografam as aulas para poderem denunciar o que lá se passa. **O ministériofez tudo o que podia para virar a opinião pública contra osprofessores**.**Os administradores regionais de educação nãodistinguem as suas funções dasdos informadores. As autarquias deixaram de se preocupar com as escolas dosseus munícipes porque são impotentes: não sabem e não têm meios. **Todosestão exaustos**. Todos sentem que o ano foi em grande parte perdido. **Pior:todos sabem que a escola está, hoje, pior do que há um ano**.*"

2 comentários:

Anónimo disse...

Acenta-lhe que nem uma luva as orelhas de burraaaaaa !!

Anónimo disse...

Agora talvez arranje um namorado no conselho de ministros.